ENVENENADOS

– autoria: Indira Moretti

 

Aquela raiva não era tua.

Aquele assunto não era teu.

Aquele olhar em desalinho.

Que tantas vezes calou o teu.

 

Aquela raiva tão desmedida.

Jeito de agir, ação reflexa.

Aquela mágoa não refletida.

E toda a fúria em ti perplexa.

 

E se traduz no desalinho.

De um discurso amargurado.

De quem dos sonhos abriu mão.

De um jeito estranho… Enclausurado.

 

Tantos assuntos nunca tratados.

Um discurso de fel regado.

Outros tantos não refletidos.

Tantos ouvidos incomodados!

 

Aquela raiva não era tua.

Aquele assunto não era teu.

Fez desbotar todo o caminho.

E o encanto se perdeu.

 

E bem sabemos o quanto dói.

Vidas roubadas, tão desgastadas.

Um não viver que nos corrói.

Num só caminho, ultrapassadas.

 

Por nos negarmos metamorfoses,

Sem aprender a perdoar.

Arrastamos pesos na trajetória.

Que nem podemos carregar.

 

Aquela raiva não era tua.

Aquele assunto não era teu.

Purificar-se do desalinho.

Achar o encanto que se perdeu.