EU? NÃO! NÓS!

– autoria: Indira Moretti

 

Buscando uma forma sutil…

Delicada!

De expressar-me sobre um assunto importante.

Indelicado!

Uma forma gentil…

Delicada!

De falar de acontecimentos que impactam o papel social das mulheres de forma…

Indelicada!

Então…

Vamos! Debrucemo-nos sobre os temas principais.

Discorramos por horas, com uma abordagem politicamente correta.

Disfarçando o modo como os fatos acontecem na forma concreta.

Isso! Podemos prosseguir com um script suaaaave…

Dê-nos agora papeis de seda, nanquim e penas!

Historicamente derramaremos nosso sangue, gota a gota, em cada margem – sem fazer cena.

Hostilidade doméstica ou em outros espaços sociais não é normal e posicionar-se com insatisfação frente ao desrespeito não é “mimimi” pessoal.

Vamos!

Chamem os profissionais!

Reconstituam os fatos e juntos passemos mal.

Eu? Não! Nós!

Que por agirmos com transparência podemos desatar nós.

Que no suor de nossos braços construímos, edificamos, encaminhamos passos, acompanhadas ou não.

Eu? Não! Nós!

Que cedo nos levantamos, que nossos homens apoiamos, que em nossos ventres os carregamos, e que para o futuro os encaminhamos.

Eu? Não! Nós!

Nós, que depois de envelhecermos não desejamos ser esquecidas à margem do Tempo.

As mesmas que depois de muito doarem-se, não desejam assistir à indiferença de quem não mais têm pra dar.

Eu? Não! Nós!

Que continuamos a sonhar, que no futuro persistimos em acreditar.

Que não aceitaremos generalizações grotescas sobre o comportamento masculino.

Que podemos reconhecer que nosso papel vai muito além de feminismo.

Que com sabedoria buscamos o espaço concreto, para semear o que é justo, o que é reto.

Para o reconhecimento de que respeito não é questão de gênero.

Que sabemos que nossa presença nos assuntos do mundo não tem nada de efêmero.

Que em sabedoria buscamos o real espaço para a expressão das potencialidades humanas.

Cientes de que ter nascido homem ou mulher não é o que deve definir o desenrolar das tramas.

À todas aquelas que apreciam com dignidade a companhia do sexo oposto.

Que criam, que amam suas meninas e meninos com carinho e muito esforço.

Àquelas que sabem nos braços de um homem estar.

À todas que insistem e não fecharam as portas para se apaixonar.

À todas que sabem que podem contribuir, que se esforçam para não apenas sobreviver, mas para existir.

Parabéns pelo 8 de Março!

E nada disso é tão somente um poema, nem tampouco um texto rimado.

É o verdadeiro pulsar de inúmeros corações sangrados.