DÉCIMA PARADA: TRAVESSIA

autoria: Indira Moretti

 

Despediu-se de si,

Abraçando o filho como quem se abraçava,

Enxergando nele tudo que o definia, enfim.

 

Despediu-se de sonhos e expectativas,

Alimentados por longo tempo.

Enfim… Despediu-se de si.

 

Assistiu as águas partirem.

Quando deu por si,

Eis que estava ali, tal qual miragem,

Presente em ambas as margens.

 

Atravessado, dividido, fragmentado,

Sem saber quem sentiria mais saudade,

Quem exaltaria ou lamentaria a despedida de quem,

Buscando ser um novo alguém.

 

Alguém que em meio à dor, ao caos,

Em meio ao ilusório e ao real,

Dividiu-se, fragmentou-se,

Permitiu-se, restaurou-se.

 

Depois abriu as asas sobre si

E abraçando ambas as margens,

Fez-se novo, pois estava.

Sem deixar de ser quem era.

 

Levou consigo as duas margens,

Para que se completassem.

Para que se emendassem ao amanhecer,

Para que florescesse um novo ser.