MORMAÇO

autoria: Indira Moretti

 

Era um menino de nariz molhado,
Destes que muito fungam…

Não se incomodava com a obstrução,
Quando escorria, esfregava a mão.
Não era agradável, pronto a incomodar.
Gostava de bola, não de estudar.

Em vida escolar, nunca exibiu notas,
Mas sabia rir, contar anedotas.
Controle da raiva, nunca exerceu,
Buscava respostas entre os ditos “seus”.

Consenso de equívocos era a decisão
E depois falava, buscando razão.
Não era maldoso, mas dado ao furor.
Não sabia dar ou receber amor.

Aprendeu que a vida é bem, muito mais,
Do que respirar e correr atrás.
Aprendeu que a vida cobra seu quinhão,
Do que não se vê ou contém na mão.

Mas desconhecia esses hemisférios,
Pois não aprendera a desvendar mistérios.
Mistério para si, era ele mesmo,
Pois pouco de si, sabia por dentro.

Não era o mais belo, por vezes galante,
E era simpático, desses bem-falantes.

Buscava fora o que faltava dentro.
Mesmo nas conquistas, havia um lamento.

Era um tal querer, que não saciava,
Pegar uma, outra e mais uma estrada.
É a ansiedade jamais percebida,
A que o conduz, muito desmedida.

É uma tristeza rente ao descansar,
A que causa insônia e o faz pensar.
É um não dizer que traz malefício,
E que o confunde ao pensar no ofício.

É o desconforto ao deitar na cama,
São os muitos nós no tecer da trama.
Um adormecer ao etílico mormaço,
Sem esclarecer reais embaraços.