COM PIJAMA AMARELO

autoria: Indira Moretti

 

Tão sangrenta quanto a guerra lá fora,
Instaurou-se a guerra lá dentro.
Tal qual conflito armado,
Sem poder sentir-se amado.

No silêncio da guerra profunda,
Território sombrio, fechado.
Na ignorância de si por dentro,
Cada pisar, escuridão, lamento.

Na escuridão da própria mente,
Num levante, fez da raiva escudo.
Atirou no escuro, aprendeu chorar,
Lembrou da infância, não sabia errar.

Exigiu de si grande exatidão,
Exigiu do outro, perdeu a razão.
Não era maldade, era estupidez,
Esmerada farda e insensatez.

Sem domínio de si por dentro,
Por ocasião, controlou as feras.
Desenhou estradas e fez construções,
Encontrou beleza, deu-se às emoções.

Entre o tilintar do talher de prata,
Com privacidade, o aroma da refeição.
Nos pés chinelos, destes os mais toscos,
Mero detalhe do que se entende pouco.

O medo do escuro,
O pijama amarelo,
A escova de dentes,
Chuva na janela.

Um clarão por dentro,
Um trovão lá fora.
Era um pensamento,
Era a própria história.

Era o ecoar
Da ingratidão.
Não saber errar,
Desprezar razão.

Era a exigência dos que lhe guiaram,
Era o esculpir, dos que incomodaram.

Era um não saber, que então sabido,
Eis que ecoa longe, qual leão: rugido!

Mas eis que a história, assim não se acaba,
Eis a trajetória: guerras, luz, espada.

E todo o passado, qual pano de fundo,
Salta na memória, impacto profundo.

Quando então cansado de se esconder,
Guerrear sozinho, pronto a enlouquecer.

Rendeu-se à escuta, se atreveu falar,
Não sabia mesmo que sabia amar.

Eram os conflitos: tempo, luz, espaço.
Coração aflito de tanto embaraço!

Pra conter o tempo, desprezou relógio,
Descobriu que a vida não se cronometra.

Definiu espaços, sem as leis da física,
Descobriu que a vida não se delimita.

Eis a explicação, na fração do tempo,
Eis a expansão: luz no pensamento!