PAZ

– autoria: Indira Moretti

 

Território mental sagrado, cujos portões são vigiados não somente por elementos da razão.

As chaves que selam ou abrem as portas são fortalecidas por treta-formas que se expandem por caminhos secretos da alma, da mente, das razões e das emoções.

Território cuja localização geográfica está muito aquém de longínquas cavernas furtivas, isoladas casas em bosques distantes ou desertos vales de solidão.

Paz é território secreto, no cume do monte, passível de ser avistado ao longe, cujos portões são protegidos por guardiões.

Os sábios das razões, os que se entregam às reflexões, os mesmos que criam os ventos capazes de dissipar as leves brisas das ilusões.

Tais sábios fecham seus olhos e expandem suas mentes em reverência à quem de fato é Maior que nós, à quem conhece a trama e dá os nós.

Paz é solo cultivado na mente humana, onde o amor é fertilizante, onde a sabedoria refletida se expande em longos feixes de irrigação.

Onde as ofensas não criam raízes, onde se curam as cicatrizes, onde o entendimento de si e do outro é a base de todas as matrizes.

Onde o medo, ainda que presente, entra, apresenta seus argumentos e contribui racionalmente no planejamento de tudo o que há de ser fazer.

Onde a coragem se entrelaça à honra, com doçura levanta-se e de cabeça erguida conduz-nos aos campos de semeadura.

Paz é solo sagrado, mineralizado pelo perdão, aquele que permite ao sábio olhar além, olhar do alto, remodelando sua posição.

Solo de uma mente que não mente pra si – que dissipa os engôdos, os charmes e as sutilezas dos vãos artifícios superficiais que só fazem iludir-nos com muito mais.

Onde os ventos das ilusões são aplacados, onde as chuvas das solidões dão mil recados, onde as nuvens se dissipam frente a um céu iluminado.

Paz é grandeza de espírito, é dar-se com liberalidade, assumindo-se por inteiro: o feio e o belo, as contrariedades.

É olhar bem lá do alto, do topo mais alto da colina, ter a visão mais ampla possível, enxergando tudo de cima, assumindo suas próprias parcelas de responsabilidade frente aos fatos.

Paz é levantar-se no deserto, prevendo o que está por vir. Enfrentando o que é inserto, acreditando, fazendo o que tem de ser feito, sem desistir.

Não se trata de coragem ou atos de bravura, é enxergar melhor os fatos e agir com amor e candura.

É fazer o que tem de ser feito, dando sempre o melhor de si, assumindo sua real posição nesta Terra, desmistificando-se de ilusões, enfrentando as próprias feras.

Aquelas que se escondem em pequenas brechas de nossas mentes. Aquelas com quem nos deparamos e o confronto é frente à frente.

Não há paz nos territórios da ilusão. Nem por isso tudo é tão somente razão.

Paz é luz que ilumina, que irradia, que limpa a alma.

Está à disposição de quem se esquadrinha, daqueles que se iluminam e se banham com graça, que levantam-se em amor, dando sempre o seu melhor e trazem de volta a calma.