TITANIC

– autoria: Indira Moretti

 

Este é um diálogo entre três personagens cujos nomes são fictícios – que seja um diálogo entre nós.

Butterfly – O que você faz quando o Titanic afunda?

…Winged olhou-a sem saber o que responder. Estava preocupado com a charada. Ela costumada fazer perguntas, tendo uma resposta em mente.

Butterfly – Vamos lá Winged! É uma pergunta simples. Imagine que você é um passageiro do Titanic e o barco afundou. Tente enxergar-se na cena… O que você faz quando o Titanic afunda?

Após uma breve pausa, vasculhando a própria mente em busca de uma resposta:

Winged – Eu entro em um bote (respondeu com segurança).

Butterfly – Não tem bote Winged, sinto muito. Você demorou para perceber que o barco estava afundando, engoliu um bocado de água, está sem fôlego para gritar e agora todos os botes estão ocupados e distantes o bastante para que ninguém te escute.

Butterfly repetiu a pergunta e pediu que ele pensasse. Voltando a atenção para Lion, que observava a conversa, esperando sua vez:

Butterfly – Vamos lá Lion! O que você faz quando o Titanic afunda?

Lion – Me seguro em qualquer coisa que boia (respondeu sem excitar).

Lion sempre era o segundo a responder e beneficiava-se de ter mais Tempo para elaboração de sua resposta.

Winged – Eu vou nadar! (acrescentou Winged, seguro de si, com ânimo).

Winged sempre foi muito ativo e de ótima disposição física – sempre seguro de si e otimista. Se não fossem seus repetidos episódios de broncoespasmo, já teriam lhe brotado asas.

Butterfly – Muito bem! Vocês são maravilhosos! Excelentes respostas!

Se nós juntarmos as duas propostas podemos ter uma solução ainda melhor.

É isso mesmo Lion, segure-se em alguma “coisa que boia”, sem ficar inerte, nade!

Segunda pergunta:

Butterfly – Quando o Titanic afunda e você está em alto mar, agarrado em sua “coisa que boia”, para onde você vai agora?

Ambos se entreolharam, depois olharam para Butterfly inseguros, sem saber o que responder.

Butterfly – Tudo bem garotos! Isso é um diálogo e não um prova. Tentem se enxergarem na cena. Titanic já era! Afundou mesmo!

Lá está você, agarrado em sua “coisa que boia”, num oceano imeeeeeenso.

Você olha para um lado e depois para o outro, só tem água e escuridão. Para onde você vai agora?

Winged respondeu: “não sei, porque ninguém sabe onde tem Terra firme”.

Butterfly – Ok! Ótima resposta! Em situações como essa mesmo os adultos ficam atônitos, sem saber para onde ir ou o que fazer.

Recostando-se na poltrona, ela anuncia a próxima pergunta…

Butterfly – Vou me colocar na cena: estamos lá, nós três!

Não sabemos onde tem Terra firme, não sabemos se nadamos para um lado ou outro, estamos sem instrumentos de navegação. Qual é a única direção para a qual não podemos seguir?

Winged – Nossa! Eu não sei se nado para um ou outro lado…

Butterfly – Qual é a única direção para a qual você não quer ir? (perguntou insistentemente).

“Para baixo!” – responderam juntos.

Butterfly – Fantástico! É isso mesmo! É assim que funciona na vida: quando vocês não souberem o que fazer, tenham plena consciência do que “não fazer”. Se não souberem exatamente para onde ir, pensem, mas tenham plena certeza de para onde “não irem”.

Ao longo da vida são nossos pais e professores, assim como nossos gestores que nos ensinam no dia-a-dia o que fazer e o que “não fazer”.

Pais, professores e gestores tem um papel fundamental no desenvolvimento ético, social, humano… de seus filhos, alunos e subordinados – e tudo isso vai muito além de questões técnicas ou práticas.

Butterfly abraçou-os dizendo:

Vocês são muito inteligentes, prestem atenção ao que vou dizer agora. Creio que vocês ainda não saibam a resposta, mas vou lhes ensinar algo que aprendi com a mulher mais forte que conheci.

O Titanic é uma metáfora, que dá significado a uma fase difícil da vida. Vida é trajetória, a estrada é longa, e os caminhos mudam.

Assim como as fases de um game vão ficando mais difíceis conforme evoluímos no jogo, assim também acontece com a vida.

Inesperadamente mudamos de fase e os desafios aumentam – independente de estarmos ou não desejos ou preparados para isso.

Quando tudo for novo… O cenário, os personagens, as ferramentas, as habilidades, os desafios, não desista, segure-se firme e não afunde.

A pergunta é:

Butterfly – Na vida real, quais são as “coisas que boiam”? Aquelas nas quais vocês devem se agarrar, que lhes impedirão de afundar até que vocês consigam decidir com maior clareza a direção certa a seguir?

Sem esperar uma resposta, pois eram ainda muito pequeninos, Butterfly fez uma breve pausa e continuou:

São nossos valores, aqueles que aprendemos quando pequeninos com nossos pais e professores, mais tarde com nossos gestores ou outros personagens que por nossas vidas passam e agregam significado.

Valores são princípios básicos que aprendemos em nossa cultura, sociedade, em nossa família. São pequeninas bússolas que nos dão direcionamento na vida.

Dentre muitos outros, vou citar alguns exemplos: Amor, Vida, Esperança, Honra, Respeito, Fé, Justiça, Sabedoria, Firmeza, Temperança, Resiliência, Perseverança, Persistência, Honestidade, Generosidade, Perdão, Gratidão, Empatia, Reciprocidade, Flexibilidade, Dignidade, Integridade.

Na vida sempre há muitos personagens que passam por nós. Aprender com eles é sempre bom. Alguns nos dirão o que fazer. Outros nos ensinarão através da postura, do exemplo. Podemos aprender até pelo avesso, com as nossas falhas ou daqueles que observamos, mas nada disso se encerra aí.

No processo de viver, tendo com premissa a perspectiva de que vida é trajetória, há em todo processo de aprendizagem no mínimo dois personagens: aquele que aprende e aquele (ou aquilo) que ensina.

(Se do seu ponto de vista, vida é muito mais do que trajetória, tudo bem. Não nos prendamos a isso, pois o objetivo não é discutir o significado da vida).

Aquele que ensina pode ter ou não intenção de fazê-lo, alguns se dispõem a ensinar, outros ensinam pelo modo que atuam, sem que haja uma intencionalidade consciente.

Aquele que aprende precisa olhar atento e estar disposto, porque, mesmo que seja exposto à situações de aprendizagem, se não houver interesse em aprender, em melhoria contínua, se não houver ouvidos dispostos,  as lições vão se perdendo no caminho.

Nossos valores, são esculpidos ao longo da vida, predominantemente na infância. E nos norteiam em tomadas de decisão.

A vida acontece sem ensaios, quando se vê a cena mudou e é neste palco que precisamos escolher direções que nos possam oferecer perspectivas de crescimento humano, profissional e espiritual.

Se a vida lhes oferecer uma fase difícil e vocês não souberem o que fazer, olhem para dentro de si, lembrem-se daqueles que lapidaram seu modo de agir e não afundem, não desistam, segurem-se firmes, nadem, insistam em viver.

O Tempo lhes dará a oportunidade de encontrarem e fazerem novas apostas.

Apenas não afundem!

E façam o que tiver de ser feito!

Se ainda não souberem o que fazer…

Saibam exatamente “o que não fazer”.

Se ainda não souberem para onde ir…

Saibam exatamente “para onde não ir”.

Façam sempre o seu melhor!