DÉCIMA OITAVA PARADA: TROTANDO

 autora: Indira Moretti

 

– EU NÃO GOSTEI! (exclamou o garoto em protesto, quase gritando).

Sorrindo, como quem sabe o que faz, a mãe responde:

– É!? Não gostou do quê?

– NÃO GOSTEI! (bravo).

– Gostou sim! (convicta). É que você ainda não sabe que gostou… Mas gostou sim (rindo e meneando a cabeça).

Num misto de indignação e raiva o garoto argumenta:

– Eu fiquei com medo! Você acelerou o seu cavalo e o meu correu atrás.

– Eu sei. Eles sempre fazem isso. É da natureza deles, são cavalos (tentando disfarçar o cinismo).

– Você sabe? Então não devia ter feito! Eu achei que ia cair (quase chorando). Você fez de propósito! (bravo).

Ao perceber que o garoto lhe daria as costas e sairia andando, a mãe, com o dedo em riste e a voz convicta:

– Olha aqui garoto! Vou te dizer uma coisa: você “achou” que ia cair, mas não caiu. Eu sabia que você “não” ia cair. Você é que não sabia! E quer saber? Tirando o susto, duvido que você não gostou! (responde ela com firmeza).

O garoto se calou.

A mãe prosseguiu. Aproximando-se um pouco mais, investiu com sincera gentileza:

– Vou lhe contar uma coisa: você só tinha oito meses quando subiu pela primeira vez  em um cavalo. Eu pedi que o condutor preparasse o pônei para você e disse que só iria coloca-lo no lombo dele quando todos do grupo já tivessem saído, pois sabia que você iria protestar. O condutor duvidou que você faria o percurso com o grupo.

Quando o último cavalo passou eu disse: “pronto, vou coloca-lo na sela e vamos sair”.

Acomodamos você. Assim que coloquei suas mãozinhas na sela e as soltei, você, imediatamente se voltou para mim, estendendo os bracinhos como quem queria descer do cavalo. Eu voltei a colocar suas mãos na sela e disse ao condutor: “Vamos moço! Faz esse cavalo andar, antes que ele chore”.

Então coloquei minhas mãos no seu quadril e disse: “Segura firme que eu estou aqui, segurando você”.

Acompanhamos o grupo, no mesmo ritmo e, no meio do percurso, eu já nem estava mais te segurando, fez o percurso enquanto eu caminhava ao seu lado. Naquele mesmo dia, no final da tarde você já estava passeando em um cavalo grande, sem que eu precisasse te segurar e sem esboçar medo algum.

Tudo na vida tem uma “primeira vez”. E todo começo é tenso. Então, devo lhe dizer que eu só acelerei o meu cavalo porque sabia que você não ia cair do seu. Assim como sabia que se eu avisasse, você não iria concordar.

Você é muito melhor do que sabe, muito mais forte do que pensa, muito mais competente do que possa imaginar. Só precisava de um pouco de ação. Todos nós temos potencialidades a desenvolver filho. E sinceramente acredito que sempre podemos fazer “um pouco mais e melhor” hoje e em todas as situações de nossas vidas. Só precisamos de ação, um pouco mais de ação. Atitude filho é um assunto muito mais prático do que teórico.

Ambos se entreolharam calados. O garoto já estava mais tranquilo, mais calmo e pensativo. Então perguntou:

– Mãe, porque os cavalos fazem isso? Quando um corre o outro corre junto?

– É da natureza deles filho. Eles vivem em grupos. Mas neste caso, eles são treinados, domados para fazerem o percurso juntos.

– Então quando um corre o outro corre para competir com ele?

– Não! Não se trata de competição. Trata-se de ritmo. Eles caminham juntos, fazem parte de uma mesma tropa, pertencem ao mesmo dono e realizam as atividades juntos. Eles não são iguais, mas quando vão fazer o percurso, sabem que devem manter-se juntos. Se um deles acelera, o outro acompanha, porque entende que deve haver uma razão para isso. Cavalos são animais nobres, têm personalidade, são fortes e inteligentes. Eles são instintivamente sábios.

– Mãe, eu fiquei com medo porque chacoalhou muito. Eu tentei para-lo, mas ele não obedeceu. Diminuiu, mas não parou de correr e balançou muito.

– A verdade é que ele estava trotando filho (sorriu gentilmente). E o trote é desconfortável mesmo. Ao acelerar o ritmo, o cavalo se põe a trotar, é desconfortável. É como se ele estivesse “marchando”. Nessa hora você deve acelerar um pouco mais e então ele deslancha, começa a galopar. É só segurar firme as rédeas, que ele sabe exatamente o que fazer. Aí fica bom! É nessa hora que você e ele tornam-se “um só” (disse ela sorrindo, recordando).

O garoto a olha com carinhosa admiração. E ela acrescenta:

– Ei! Fica tranquilo! Eu conheço você, assim como você também me conhece. Sabe que te amo e que não faria isso se não tivesse certeza de que você daria conta. E olha só: você é poderoso! Deu conta! Não caiu!