ENFIM SILÊNCIO

– autoria: Indira Moretti

 

Eis o Grande Senhor,

Sempre de olhar sereno e brilhante, disponível a qualquer momento, a todo instante.

Então entregamos às sábias mãos do Senhor Silêncio tudo aquilo que lhe compete guardar:

As palavras não ditas que o Tempo oxidou – aquelas que não fazem mais sentido, que já nem encontram abrigo, as mesmas que incomodam os ouvidos.

As palavras velhas de outrora – aquelas que sumiram e perderam a forma, todas que deixaram apenas um velho rastro de emoção guardado na memória.

Sim! Todas aquelas que quando proferidas, grandemente impactaram, mas que beneficiadas pela ação do Tempo, sabiamente desbotaram.

O Silêncio tem um imenso laboratório, com anfitriões e escritório – ele trabalha com discrição e não difunde nada que lhe é confiado em mãos.

Sempre disposto a escutar, se dispõe a devolver com prontidão tudo o que não sofreu oxidação.

Também devolve cacos de memória – mas fique ciente de que certamente irão compor uma nova versão da história.

Não a que de fato aconteceu, pois nestes casos, apenas a emoção não efervesceu…

Esse tal Silêncio é de fato um gentil Senhor: sempre de portas abertas, sorridente, nos recebe com amor.

Têm lenços para secar lágrimas, grampos para fixar páginas, ouvidos atentos para escutar “dádivas”…

Plácido, sereno, não esboça julgamentos, tem um senso ético incorruptível e não trabalha sozinho.

Aliou-se ao Tempo e à Sabedoria – que na saída nos entregam um cartão que diz assim: “Equilibre paciência e valentia!”.

O Silêncio nada tem de mudo, sabe o que faz e o faz bem – aliado Tempo apresenta-nos todos os lados de suas inúmeras faces, e assim como ele… vamos aos poucos perdendo os disfarces…

 

Quando o silêncio já não mais incomodar,

E houver a clara percepção de suas vantagens,

Facilitando as reflexões e o meditar…

 

Quando o silêncio enfim for ansiado, amado,

Neste momento os olhos fecham-se, satisfeitos, repletos.

E a alma se ilumina nos territórios da paz.

 

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