REAL VALOR

– autoria: Indira Moretti

 

Às vezes precisamos um argumento convincente,

De uma palavra, uma ideia,

Que possa nos resgatar de uma dúvida, de um julgamento insistente.

 

Às vezes precisamos retomar o controle de nossa mente,

Selecionando, organizando os pensamentos, que insistem em se fazer notar,

Abrindo janelas, escancarando-as em nossas secretas telas, bem na nossa frente.

 

Apegamo-nos a fatos e pessoas de forma insistente.

Egoístas que somos, apegamo-nos às coisas materiais e imateriais.

Deixando escapar o Tempo, a trajetória que se apresenta à nossa frente.

 

Quando se vê… A insônia entra pelas frestas e desaprendemos a “em paz nos deitar”.

Perdidos entre preocupações sobre fatos e ideias sob os quais não temos domínio.

Talvez aquelas ideias e pensamentos que nos aferroam o calcanhar.

 

Nestes momentos a visão turva, confundindo-nos entre o real e o ilusório,

Valorizando o de menor valor, desaprendemos a amar e respeitar.

E nas interfaces das relações, não distinguimos o perpétuo do provisório.

 

O respeito a si e ao outro, o amor próprio, luzes que brilham como a solar.

Enche-nos a alma de vida, invade portas e janelas.

Dá-nos a percepção de que mais um dia chega para nos agraciar.

 

O respeito está na postura de quem em pé sabe se colocar.

Está nos olhos que não se desviam na hora da negociação.

Na fala, no silêncio que nos precede, que nos acompanha, que nos faz pronunciar.

 

O respeito é glória, honra e coroa de flores para quem a este se entrega.

Ele unta, cela, eleva e faz brilhar.

Vai à frente de quem o emprega, leva e eleva o nome de quem o carrega.

 

Respeito é âncora, é força, coluna vertebral, que nos sustenta, nos põe de pé, é matriz.

Respeito não é bola de gude, não é flecha, não é carta na manga, nem escravidão.

É força, energia motriz, que nos sustenta, nos fortalece, do topo da árvore até a raiz.

 

Respeito começa assim, quase sem requer, no momento em que contrariados, decidimos o que fazer.

Ele prima pelo caminho da melhor decisão, não aquela que nos agrade, que dá mais lucro, mas por aquela que nos honra o coração.

Respeito não é lógico, muitos podem não compreender, pois é amplo, é complexo, prima pelo que é sustentável, ecológico, prima pelo bem viver.

 

Ele não só percebe, mas age naquilo que ninguém mais viu.

Respeito nos levanta, nos acolhe, nos carrega com as mãos.

É verdadeira honra para aquele que nele creu, que insistiu.

 

Sim!

 

Para aquele que não brigou pela razão, dado o olhar ampliado que não à todos se apresentou.

Que soube esperar o tempo do outro, sem passar por cima de tudo, como um trator.

 

Àquele que abre mão de si para a vida do outro resgatar.

Àquele que com dor levantou-se e enfrentou de cabeça erguida o que alguém não pôde ou soube encarar.

 

Àqueles que hoje estão, àqueles que não mais podem estar.

Que por seu modo de viver nos inspiram.

Que vivos em nossas mentes, continuam a nos guiar.

 

Respeito pela imagem, pelo nome, pelo corpo daquele que partiu.

Nada disso é suficiente para representar a amplitude de um ser.

Mas simboliza, arremata e dá volume ao que com os olhos se pode ver.

 

Porque somos muito mais que mil palavras, somos muito mais que exultação.

Nosso “Eu” vai à frente, abrindo portas e janelas para ação.

 

Pare agora! Preste atenção!

Falo de coisas das quais não se toca com as mãos.

 

Precisa ser grande, forte e sensível para enxergar,

Precisa ser pequeno, ter coração de menino para despertar.

 

Precisa fechar os olhos e acalmar a intenção,

Silenciar a mente, que se agita, interferindo como um vulcão.

 

Precisa voltar para o silêncio do ventre materno,

Esperando que as mitoses ajam por si.

 

Respirar bem fundo e concentrar-se na respiração,

Permitir que o ar que entra e sai estabilize a emoção.

 

Encontrar um lugar silencioso dentro de si,

Mesmo no caos das cidades em que os barulhos ecoam.

 

Encontrar um lugar de silêncio na acelerada mente, que gira como um pião.

Encontrar um lugar de silêncio capaz de escutar tão somente as batidas do próprio coração.

 

Precisa tão somente consigo estar,

Abrir os ouvidos para as vozes que vem de dentro, que somente irão surgir quando silenciado o lamento se apresentar.

 

Precisa abrir os ouvidos e escutar a si mesmo.

As respostas, as peças do nosso quebra cabeça, estão onde ninguém por nós pode entrar.

Em nosso cerne, em nossa mente, nossas raízes, no nosso lar.

 

É assim que trilhamos a estrada da vida, colhendo pistas escondidas.

Pistas que bem diante dos nossos olhos podem estar,

Aquelas que por medo, insistimos e nos desviamos atrasando nosso pisar.

 

Pistas no caminho…

Deixadas por quem antes de nós pisou.

Que por seu modo de viver se faz lembrar, se eternizou.

 

Sabe por quê?

 

Porque somos muito mais que um busto robusto na entrada de um edifício.

Somos muito mais que um busto dourado a brilhar na sala porta aviões.

Somos a história que ninguém por nós viverá,

O legado que deixamos, o nome que criamos e tudo que soubemos amar.

 

Aprender e ensinar em cada trecho do caminho.

Aprender e ensinar o velho, o jovem, o menino.

 

Acalentar aquela que ninguém parou para ouvir.

Alguém que nem sabia que ainda era capaz de sorrir.

 

Amor! Não apenas sentimento.

Capacidade de agir, de ação, de movimento.

 

Força que move a roda da vida.

Que em sua plena e boa intensão põe o dedo na ferida.

 

Que erra e acerta quando tenta então fazer.

Que levanta-se em atitude ainda que não saiba por onde começar na hora de refazer.

 

Que cela e arremata, que ascende o pavio.

Que insiste em acreditar, ainda que ninguém mais viu.

 

Que não desiste de agir, de acreditar.

Que impulsiona para ação apenas por seu jeito de falar.

 

Que transita pelo caminho, que desejamos acompanhar.

Que sobe e desce, que se exercita, que direciona o pisar.

 

Amor que tem de sobra e vale mais que uma pepita.

Que se apresentará, independente de quem não acredita.

 

Então feche os olhos e enxergue.

Não depois… Agora!