O POETA E A GRUTA
autoria: Indira Moretti
O poeta decidiu sonhar.
Tal como faz um sonhador.
Fechou seus olhos ao inspirar,
Ao abri-los, não era mais.
Não o mesmo cenário,
Não a mesma cena,
Não o que sonhara…
Lúcido, investigou o derredor.
Não tão quente como previa,
Nem como esperava.
Uma gruta!
Por opção: as mãos desnudas e os pés descalços.
Fechou seus olhos
E uma lágrima rolou.
Respirou fundo ao abri-los
E confiante ensaiou o primeiro passo.
Não era tristeza, nem tampouco alegria.
Fosse a dor de outrora e as próprias mãos.
Cônscio de onde estava
Logo deu-se conta de que só uma coisa
Seria capaz de aquecê-lo:
O movimento!
Movimento que realiza, que agita.
Que faz suar e acontecer.
Movimento que transforma, que enobrece.
Que dói e faz crescer.
Movimento que impulsiona, que desafia.
Que faz sangrar e reviver.
Movimento que incomoda, que atrita.
Que escarifica ao lapidar.
Movimento que modela, que lapida.
Que fere, transforma e faz brilhar.
Depois sentou-se sem lamento.
Olhos atentos, dor e saudade.
Inspirou profundamente.
Como quem sabe fazer,
Expirou bem compassado,
Depois sorriu ao agradecer.
Era o sangue e própria terra,
Eram as pedras, os arranhões.
Não da gruta ao movimento.
Do lapidar, das emoções.